sábado, 31 de janeiro de 2009

Pressionando em zona de forma equilibrada

“A pressão deve exercer-se sobre a bola, não sobre o jogador”

(Cruyff, 2002)


Recuperar a bola. Essa é uma tarefa que pode se tornar mais ou menos complicada dependendo do nível de elaboração que se encontra a equipe sem bola em seus princípios de jogo, em nível organizacional, operacional e estrutural. E também está ligada, é claro, ao jogo posicional do adversário, sua capacidade de circular a bola e de progredir em direção ao campo adversário ou ao gol, além de outras inúmeras variáveis. Contudo, ter a bola e, obviamente estar preparado para utilizá-la de forma efetiva em busca do cumprimento da lógica do jogo (Leitão, 2004), passou a ser essencial principalmente para equipes de Rendimento Superior que, além de necessitarem de um controle muito bom do jogo sem a bola, também precisam controlá-lo e/ou dominá-lo com bola devido às exigências que são submetidas nas várias competições que disputam, tanto em nível nacional como continental.

Em situações de jogo em que a bola tem que ser recuperada rapidamente após um ataque para que uma situação adversa no placar seja revertida ou contra uma equipe que circule a bola próxima a sua área de defesa como estratégia para a manutenção de uma vantagem por exemplo, faz–se necessário adotar alguns comportamentos. Nesses casos citados, por se tratar de recuperar a bola longe do gol que se defende é preciso adiantar a equipe. O campo a defender torna-se maior e a complexidade do movimento coletivo aumenta. A gestão dos espaços deve estar regida por regras de ação que todos compreendam e entendam seus momentos de aplicação e essa coordenação coletiva que proporcionará a manutenção de um equilíbrio nos níveis estruturais, operacionais e organizacionais.

Figura 1 – Pressão Zonal em Bloco Alto (largura)

Na figura acima podemos observar uma equipe jogando na plataforma 1-4-1-2-3, indo em busca da bola na linha 1 e utilizando marcação por zona. Ao adiantar o bloco em busca da bola, foram construídas 4 linhas de marcação (inclui-se aí o goleiro como uma linha) e com isso um espaço considerável foi deixado nas costas da penúltima linha (zagueiros 3 e 4 e o lateral 6) para que possa ser explorado pelo adversário numa possível bola longa para a entrada em velocidade dos atacantes. Obviamente, sustentar uma contínua pressão sobre a bola e evitar o recuo da equipe (o que geraria maior deslocamento) torna-se essencial, por isso os movimentos tem que estar coordenados. Porém, a equipe azul manteve-se equilibrada do ponto de vista da ocupação do espaço no que tange à largura, conseguindo realizar pressing continuamente caso a adversário busque a circulação lateral da bola. Viradas de jogo longas também não desestruturarão tão facilmente esse bloco.

Figura 2 – Pressão Zonal em Bloco Alto (profundidade)

Utilizando a mesma plataforma da figura anterior, o 1-4-1-2-3, na figura 2 a pressão sobre o adversário deu-se de forma diferente sob o aspecto estrutural. Nessa figura vemos um maior número de linhas construídas e uma equipe mais “estreita”. Mudam-se as prioridades, o objetivo é o mesmo, então qual o motivo? Caso o confronto seja contra uma equipe que lance bolas longas nas costas dos zagueiros, mas que não circule bem a bola, utilizando ataques rápidos sem mudança de flanco, pressionar dessa forma torna-se mais vantajoso.

Para pressionar alto tem que haver estruturas construídas no campo de jogo (podemos observar que os jogadores da equipe que pressiona formam, nas duas figuras, estruturas geométricas entre todos eles, principalmente triângulos e losangos), pois a estruturação do espaço e a relação que os jogadores mantém entre eles (comunicação e meta-comunicação) são duas das três competências essenciais que o autor Júlio Garganta (1997) considera importante para o jogador de esportes coletivos, sendo nesse caso, o futebol. Para cumprir com efetividade a recuperação da bola utilizam-se os princípios de defesa mais adequados (compactação, flutuação, etc.) em conjunto com os operacionais sem perder o todo, o jogo, com transições e fase de ataque, de vista.

Referências Bibliográficas

Cruyff, J. (2002) Me gusta El fútbol. RBA Libros. Barcelona.

Garganta, J. M. (1997) Modelação Tática do Jogo de Futebol: estudo da organização da fase ofensiva em equipes de alto rendimento. 150 f. Tese (Doutorado). Faculdade de Ciência do Desporto e Educação Física, Universidade do Porto, Porto.

Leitão, R. A. A. (2004) Futebol: análises qualitativas e quantitativas para verificação e modulação de padrões e sistemas complexos de jogo. Dissertação de Mestrado. UNICAMP, Campinas.


Leandro Zago - CIEFuT